domingo, 6 de junio de 2010

A viúva - Parte I


Então ela saiu de casa sem bater a porta. Caminhou devagar até a rua principal do pueblo, porque era ali que todos da cidade esperavam para vê-la. Já fazia alguns meses que tinham colado cartazes pela cidade toda. A foto era dela, vestida de preto, com uma frase: de pistolera a viúva. Depois disso, virou comentário, tava na boca do povo e o povo segurava pedras nas mãos. E as pedras certamente iriam para seu corpo, naquele dia, na rua principal do pueblo. Nenhuma pistolera quis ver o massacre, nem el justiciero. Ninguém da sala da justiça estava de acordo, porém Zari caminhava lentamente para seu pobre destino. A culpa era só dela, vestiu-se de preto, trancou-se em casa, abandonou seu próprio cavalo, esqueceu-se de suas doses diárias homeopáticas de tequila. Tinha deixado de lado a sua vida. Quis greve e greve teve. Secou qualquer resto de sentimento que existia em seu corpo, bebeu o próprio sangue e se alimentou.

O povo dizia que estava louca. Que jamais na lenda dos viejos del deserto teve uma história parecida. Nenhuma pistolera pode ser uma viúva. Mas Zari queria fazer história, queria enfrentar cara a cara a quem só julga, a quem só diz. Zari estava cansada do deserto, essa era a pura verdade. Estava cansada de miras erradas. Cansada de tropeçar em sapos, cansada de não encontrar piratas, cansada de histórias repetidas, queria algo novo, mas o novo não veio, não do jeito que ela esperava.

Então, cansou até de esperar.

Num dia de sol ardido, não existia o vento, logo alguma coisa estranha aconteceria. Quando não venta no pueblo, puxe uma cadeira, meu caro leitor, porque alguma merda vai acontecer.

Ela aparece na rua principal do pueblo, com um vestido rendado negro colado em seu corpo, cabelo preso num coque e uma flor preta. Descalça caminha pelo chão quente, nada consegueria tirar aquela expressão no rosto de Zari, nem mesmo o capitão San Martin. Ela passa pela multidão jogando pétalas pelo chão, olha no olho de cada um, e baixinho cantarolava uma canção difícil de escutar. Aproximou-se da fogueira, ajoelhou e rezou alto: Con el amor de mi madre, de nuestra madre, hago lo que puedo y que no puedo, que Diós tenga piedad de mis hermanos, y yo me entrego a vós....

O povo que não se encanta com o choro de sua reza, sem piedade e sem compaixão, atira todas as pedras em Zari.

2 comentarios:

Zarcas dijo...

Vc pediu pelo rosa e nao pelo vermelho!!!!! O vermelho apesar de parecer dificil eh mais facil do que muitos imaginam. Basta entregar-se por inteiro, basta olhar a todos com sincero interesse, basta nao ter regras hipocritas e preconceitos desnecessarios e as possibilidades se multiplicam......Agora minha amiga o rosa vc cruza uma vez e se muito sortuda 2 in a life time! Ainda ha tempo, tem certeza que nao quer trocar?

Zarcas dijo...

Zari escute Uma musica chamada Certain Female de Charlie Feathers!!! Quero colocar no blog kkkk.