lunes, 27 de junio de 2011

O muro, a estrada, as férias Parte VI

Do alto a camera desce, percorre o caminho da pequena estrada do faroeste até chegar no café de Zari. Enfoca a natureza ao redor, já não há tantas pessoas na estrada e nem ao redor. Do outro lado da estrada ainda há fumaça, o café destruido com restos de cinzas.

OFF
Até hoje a polícia e os bombeiros não prestaram socorro. Ninguém sabe o porquê. Ninguém sabe quem colocou fogo, ou se pegou fogo sozinho. Aqui existe um mistério.

A camera entra no café de Zari, ele está totalmente vazio, as louças continuam na pia. Zari está em seu quarto, arrumando todas as malas, ela vai deixar o café. Vai partir outra vez. Zari caminha até a janela, olha mais uma vez para as cinzas do café, sente saudade. Pega suas malas, desce pela escada, pega algumas garrafas cheias de tequila e coloca em sua bagagem. Atravessa a estrada, escolhe um carro, lembra que não sabe ligar o carro. Atravessa novamente a estrada. Liga para um chaveiro. Espera o chaveiro. O chaveiro sem perguntar, abre todos os carros, faz uma chave da caminhonete azul, ajuda a pistolera colocar todas as malas. Zari sem dinheiro algum sussurra no ouvido dele:

- Mi amor, si quieres... el café es tuyo.
- Y tu mujer? No te quedarás aqui?
- No, estoy de paso! Ahora es por la carretera.

viernes, 3 de junio de 2011

O muro, a estrada, as férias Parte V

Cena 101

Do alto ainda se vê um corpo estendido no chão, sem sangue, sem rastros. A menina ainda respira, dorme como nunca dormiu, descansa de sua própria loucura. O café continua vazio, algum dia desses, esqueceu de abrir a porta antes mesmo de cair no chão. Ninguém entrou, bateram na porta de vidro, chamaram a polícia, ninguém entrou, nem mesmo seu amigo de terno azul. Ninguém sabia o que tinha acontecido, mas o café já não fazia tanta falta, depois que abriram um café logo a frente do café de Zari. Agora todos estavam do outro lado da rua. Zari abre os olhos, calmamente mexe as mãos, depois os pés, aos poucos se levanta, olha ao redor e imagina que é segunda-feira, o dia que o café está fechado. Sobe as escadas para tomar um banho. A memória de Zari já não é a mesma desde que saiu do pueblo, mal se quer podia lembrar que antes mesmo de cair no sono, estava berrando, chorando com o diretor. Nem se quer podia lembrar que existia as pistoleras. Já não lembrava de mais nada, nem que hoje não era segunda e muito menos podia imaginar que abriram concorrência com ela, naquela mesma estrada de merda que quase não passa ninguém, bem ali na sua frente, na sua fuça. Zari sai do banho cantarolando, abre a janela, vê o movimento do outro lado da rua, coça a cabeça, se veste. Desce as escadas, abre as janelas, olha o calendário, se dá conta que hoje é quinta-feira, caminha até a porta do café, atravessa a rua e entra no concorrente. Todos param de conversar, e olham para Zari, que caminha lentamente sorrindo e acenando para seus clientes até o balcão, senta e pede 12 doses de tequila. Todos ficam em silêncio. A garçonete demora uns 20 minutos, ate que completa a décima segunda dose de tequila e mesmo sabendo que não deveria perguntar, não se aguenta:

- as doze doses são para você?
- repete - diz Zari
- as doze doses são só para você?

Zari gargalha, bate palmas, gargalha novamente:

- dose dozes. muito boa essa frase. rimou. - fala Zari com os olhos cheios de lágrimas. - Sim, são todas para mim. E vou tomar de duas em duas. Dupla, conhece? Estou com saudade de uma pessoa que não sei se existiu. - zari gargalha novamente - pra te falar a verdade, eu não sei se a minha vida existiu até uns 3 meses atrás. Então, vou tomar tequila pra ver se ainda lembro fazer o que fazia tão bem feito. Ou melhor, quase uma aprendiz, elas me chamavam de aprendiz.

- Elas quem? - pergunta a garçonete

Zari fica olhando seriamente a garçonete, fica pensando numa resposta:

- Minhas irmãs.

Zari olha ao redor, espreme o limão na boca e vira a primeira dupla de tequila, coloca mais sal e mais uma dupla. Fecha os olhos, sente o calor invadir seu corpo, aperta o limão em seus lábios, vira mais uma dupla, fecha os olhos, sacode a cabeça, coloca mais sal, espreme o limão e mais um dupla de tequila. As pessoas no bar se aproximam, admiram uma mulher saliente dessas sentada no balcão virando doses e doses de tequila sem parar. Zaroi espreme mais um limão em sua boca, mais uma dose virada com estilo, pede mais sal, grita por sal, esfrega o sal na boca, espreme mais um limão e mais uma dose de tequila. Olha o sal, o limão, espreme um em cima do outro no balcão, lambe o balcão e vira a última dose de tequila. Limpa a boca com aplausos de seus ex-clientes, comemoram, desejam a mulher mais bonita e saliente daquele pedaço. Zari levanta, agradece os aplausos, sobe na mesa e chama o dono da cafeteria.

- ele não está! - diz a graçonete
- Ah não? Que pena, ele teria que ver, mas acho que não vou esperar! - grita Zari
- Espera não, pode começar o strip tiser, gostosa!

Zari nem escuta o que o gordo fala, simplesmente olha ao redor e chama todos de traidores, tira suas duas pistolas e começa sem dó, sem tristeza, sem felicidade alguma a matar todas as pessoas que estão naquele café, todos gritam, correm, garrafas quebradas, choro, sangue, Zari pula de mesa em mesa, até a porta do café, sai correndo e antes joga 5 granadas, atravessa a estrada, entra no seu café e vê da própria janela, o café explodindo. Não sorri e nem chora. Pensa nas pistoleras.

- Elas iam ter ficado orgulhosas.

Zari caminha até o balcão, acha um rádio, o mesmo rádio do pueblo. Aperta o botão:

- Zarcas? Preciso de você! Cambio, torre 12 chamando, cambio!