lunes, 14 de marzo de 2011

O muro, a estrada, as férias

Cena 44


Câmera do alto, desce para a rua principal do pueblo. Não existe ninguém na rua, nem cavalos, nem moscas. Existe somente um silêncio insuportável. Foco na casa vermelha recebendo o sol das 7 da manhã. O galo não canta. As folhas voam com o vento pelo chão, sobe poeira.


OFF com voz del viejo de deserto


Algum sábio dizia que era necessário olhar para o muro para saber se a história tinha acabado ou não.


E foi exatamente isso que ela fez:


Acordou, saiu de casa e foi correndo até o muro principal do pueblo. Rezando alto, esperava um graffiti bem colorido para acreditar que tudo não passava de um pesadelo. Mas sua orações foram poucas, foram mal rezadas, foram desnecessárias. No muro não tinha nada mais do que tinta fresca. Cinza. Nada mais triste do que ver algo pintado de cinza. E do cinza vieram as lágrimas de seus olhos. Veio o desespero, veio a angustia, veio o medo. A história tinha acabado. Não tinham mais personagens, não tinha mais vida e nem roteiro. Durante um outono e um verão inteiro só tinha sobrado ela no deserto, lutando sozinha com sua própria imaginação. Fazia um tempo que não exitia Kill Bill ou Matrix. Zari vivia simplesmente Clube da Luta. Todas as histórias eram frutos de sua própria imaginação. Mas o muro, caro leitor, o muro era a pura realidade. E às vezes, a realidade machuca.


Corta.


Cena 45


Zari carrega duas malas em direção a estrada. Ela sabe que precisa fazer isso sozinha, porque nem seu próprio cavalo existia. Já tinha parado de pensar o que realmente era realidade ou imaginação. Não queria nem pensar na hipótese que seu cavalo nunca existiu, muito menos que as outras pistoleras eram imaginação. Queria somente tirar férias disso tudo, e para tirar férias, precisava sair daquele lugar. Precisava partir.


Zari no meio da estrada sozinha segurando duas malas em direção ao pôr-do-sol.


Corta.


Cena 46


A noite cai, a Lua cheia aparece, um silêncio profundo interrompido pela canção das cigarras


- Meu bem - disse alto.


Estava com saudade de dizer isso. Estava com saudade de abraçar alguém, dar beijinhos na bochecha e fazer cafuné. Queria de novo, ligar para todos e avisar: estou apaixonada!


Mas não podia nem ligar para dizer que queria isso. Ligaria para quem?


Zari larga uma mala na estrada e segue apenas com uma.


Cena 47


Largada no muro da cafetaria fechada no meio da estrada, ela dorme, fingindo que sua mala era seu travesseiro. Dois homens, funcionários da cafetaria chegam perto dela.


- Dios! Mira esto, José! Otra puta para nosotros.

- Ahhh Pablo, creo que esta Puta fue atirada por unos hombres que la comieron por toda la noche.


Os dois caem na gargalhada. E na gargalhada acordam Zari.


Zari abre os olhos e vê em sua frente, dois homens fedidos, com cara de mexicanos do sul, um gordo e um magro. Os dói tem bigodes gigantes e fumam um cigarro sorrindo para ela.


Num piscar de olhos, Zari dá uma voadora no gordo, e uma rasteira no magro. Amarra os dois com os cadarços dos tênis como se fossem minhocas, rouba a chave da cafeteria e abre a loja.


- Nada mau. Já tenho um lugar para ficar.


Acende as luzes do lugar, abre as janelas e os armários. Lentamente, sorri com a nova conquista, pega um pote e sai da cafetaria. Olha para os prisionerios e fala:


- Otra puta para vosotros? Solamente se fuera tu madre, hijo de puta! Conoces las pistoleras?

- No, putana – responde o gorducho

- Pues aqui estoy y para esto necesito de tu vida.

- Nooooo por favor mujer, tengo dos hijos, soy padre de família.


Zari despeja o líquido nos dois, acende um fósforo e taca fogo.


OFF: No meio do deserto, não existe lei. A cena parecida com os playboys que tacaram fogo nos índios, não vai parar na mídia, porque no deserto não existe a mídia. Existe justiça. E nos dois casos, ninguém vai para a prisão.


Zari acende um ciagarro e observa os dois corpos queimando em sua frente, olha para cafeteria e sorri, já tem onde ficar.


Corta

domingo, 13 de marzo de 2011

MARCO ZERO - parte 2

paralelo ao mundo cortado, ficcionalizado, corre o rio silencioso:

|\|

nasce o sol
crescem as plantas
chove

el justiciero queria ser cangaceiro. queria ser samurai. queria ser nada.
queria ser ícone. e era. rei.
retirante.

ninguém,
atravessado,
tsunami no deserto

ia. levar a paz devastada da violência caatinga adentro.
ia. memória que vai ser. história: dias atrás de dias, família de filhos, rugas e terremotos.

e chorou.




(Continua - parte 3)

sábado, 5 de marzo de 2011

MARCO ZERO

(OESTE – PARTE 1).




Não se trata da morte como fim de tudo, mas da faca na carne.

Justiciero ruma novas cidades sob o sol expressionista do entreguerras. Resolveu, de salto, sair. Zari estava sentada no meio de El Pueblo à espera das estórias. E não poderia mais contar com Justiciero. Agora, ele foge de El Pueblo. Não por medo dos homens - que conhece, nem pela fome – que come, nem pelo atraso – que caminha. Mas por outro motivo: mistérios já lhe enjoam. Cansou de estórias. Quer uma só História. Uma raiz. Nosso homem amadurece cedo.

Amanhece a manhã.

Afinal o que resta de El Pueblo? Aquela quase-vila sobrevive de raízes ou de mitos? De realidade ou de sonho? – Que seja de realidade, retruca mascado.

os homens daquela ex-pasargada caminham sob os chapéus entornados na mente esquivada. Evangélicos no trem. Protestantes. Católicos. Indígenas. Mulatos. Camuflam em cor marrom seus desejos. Seus anseios. Seus futuros. Vão: gado inconsciente.

O forasteiro sem orelhas foge, em busca da origem. Da raiz. Good bye. 6 km, mais 5, a vista vê. Voa o céu azul.

RESTAURANTE DO TOCHO.

Na cidade fria, uma meia dúzia de casas formando uma mearua. Aquele velho cenário de madeira empoeirada, dois três cavalos, uns moradores, o novelo cruzando a rua. Para o leitor, um clichê. Para El, um grande nada, igual a tudo. O de sempre. O finito. O mundo. Encosta o cavalo. Na varanda, um homem de 40 anos. O cachorro late pelo/contra o farasteiro. Prende o animal. Acena com a aba que lhe cobre o semblante. Entra, tira o chapéu, e pede o almoço. Espera enquanto ouve o rádio. Balcão sujo, repara. “Homem morre defendendo própria terra. 40 cabeças de gado são roubadas em Ticanos”. Come e sai.

Lá fora, um impresso:

“México contabiliza 30 mil mortes ligadas ao narcotráfico em 4 anos. Disputas entre cartéis de drogas pelo controle das rotas para os EUA e operações do Exército de Calderón foram responsáveis pelas mortes”.

- 30 mil, repete.

30 mil era um numero novo. El Justiciero estava acostumado com 5, 7, 14, 40 talvez. 30 mil, não. Algo que lhe escapara. 30 mil o que? Pessoas? Não seria Possível. Mas, enfim, portos outros. Não lhe diz respeito. Sua sabedoria residia em saber onde pisa os pés. Barata não travessa galinheiro. Monta o sólido cavalo. Acena. Bate as esporas. E vai. Mas ouve:

- Se segue pro leste, cuidado.
- Caldeiron, pensa

Cavalga o almoço sem pressa. Não há muito em que se pensar nos meios solitários e silenciosos do deserto. Leste? 30 mil? E. Em El pueblo, não havia dessas modernidades. Drogas, EUA. Massacres. A maldade, aqui, é uma curva na moralidade tão aguda quanto pode ser a da bondade. A audácia é uma pedra tão grande quanto um homem pode carregar. Não mais. Era um caipira pré-bomba atômica. Afinal, de que precisa um homem senão apenas de comida e lugar para dormir? Lá atrás, não havia leis. Homens são cabras. Não lhe encaixa a cabeça. O novo mundo não lhe diz respeito, conclui. Não diz nada. Não significa.

Mas era novo.

Claro. Claro. Em preto e branco estourado, claro. Claro amarelado. Claro esverdeado. Claro nem tanto. Ondulante clara a luz mareia o deserto. Se a serpente diz não coma, não coma – seduziu-se. E rumou para além do Édem. Longe dos padrões. Das não-leis. Das Pistoleras? Longe de si.

LESTE – parte 2 (continua)