sábado, 4 de abril de 2009

"A tragédia de El Pueblo - Parte V" ou "A morte das Pistoleras"




- Suas vagabundas.
- ...
Dom Sebastian caminha lento sob o sol raspando a sola no chão. Segura o chapéu, olha relógio, 16h30. Observa seus soldados entrarem no boteco vazio ao lado e sentarem. A cidade, vazia, cheia de corpos mortos, observa calmamente o início do fim da tarde. 204 assassinatos. O calor invadia os ambientes internos e acelerava a decomposição dos corpos. Um cheiro de comida podre desafiava o estômago dos homens. Na cabeça deles, não passava nada. Tomavam café como mercenários após o trabalho concluído. Aguardavam, sem alma, a recompensa em forma de cargos no novo governo de Dom Sebastian.

Junto com os soldados, o povo, foragido de si mesmo, ao longe, ciente do banquete amargo, preparava-se para ser governado por Dom Sebastian. Trocavam informações e aflições sobre ao que seria que estariam destinados. O assassinato das Pistoleras tinha significado claro para El Pueblo. Toda a cena tinha sido montada para uma única coisa: deixar claro para aquela gente magra quem mandava agora naquelas terras. E a mensagem foi transmitida. O capitão de arestas precisas e frias fincara-se naquela areia sem fim para sempre. Seus filhos e os filhos de seus filhos conduziriam a história de El Pueblo por algumas décadas. De agora em diante, este blog fica em suspenso. Ou acabará. Mesmo que alguém poste algo após este ocorrido, será destituído de significado, de força real, de convencimento. Até um novo herói aparecer, a poesia deste povo estará hibernando. Assim como comida, um povo um povo come poesia. Sem arte, um povo não persiste, não existe. A cultura come signos, almoça poesia. Sem o universo fantástico, El Pueblo deixa de ser El Pueblo a partir de agora. Passa a se chamar “Novo Governo Democrático de Chiapas”. Com a morte das míticas meninas, ninguém é capaz de reverter o domínio de Dom Sebastian. Com as Pistoleras, El Pueblo despede-se de qualquer esperança. O chão seca de açúcar e não mais florescerá algo que não seja banana e cana para exportação.

Dom Sebastian, o homem, o rei, o vitorioso, o centro de todas as forças políticas, o monopólio econômico, digeria uma gordurosa sensação de satisfação. Evitava olhar a comida desperdiçada, os corpos espalhados, mas, quando o fazia, deliciava-se forçosamente com o clímax de violência e poder que instaurara. Trata-se de uma sensação de poder vertiginosa que, apesar de sobre-humana, não alterava sua fisionomia, rude e elevada.

Mas aquele denso odor pulsante insistia em adentrar sua consciência e ele se sentiu mal. Sob um sol pesado, vomitou repentinamente no meio da rua. Um pouco daquele suco vistoso caiu sobre o corpo de uma pistolera e respingou na calça de seu terno. Pegou um lenço e limpou a calça, e abaixado, observou o rosto travado de olhos abertos uma pistolera a meio metro de distância. Quis sentir desprezo, mas a cena macabra lhe assustou levemente. Pareceu-lhe um fantasma. Teve a sensação que aquele corpo poderia retornar à vida repentinamente e olhar em seus olhos ou pegar na sua perna. Afastou-se com dois passou para trás sem tirar os olhos da pistolera. Aquela cena atormentou sua auto-confiança e fez aquele homem sentir-se ilhado em sua própria pretensão. Ficou desconfiado. Por segurança, apoiou a mão na sua arma que estava presa na cintura. Estava ofegante. A luz do dia fraquejou, escureceu sua visão, sentiu-se tonto. Aquele corpo sujo de sangue e vômito estava lhe encarando de olhos abertos. Ele não conseguia suportar aquela cena, mas ficou com medo de virar as costas àquela pistolera. É como se ela fosse levantar-se e mata-lo pelas costas, como ele havia feito. A tragédia que cometera estava calmamente descansando na tarde, aguardando o sol descer e aliviar o calor. Aqueles corpos desfrutavam de uma paz que ele não tinha. Aqueles mortos tinham algo que ele não tinha. Ao mandar para os infernos aquelas pessoas, mandara, com elas, sua tranqüilidade e sua paz. Sentiu raiva dos corpos. Quis matá-los de novo. Queria sair atirando em todos. Certificar de que estavam mortos. Despejar sua raiva por não ter a paz que eles tinham. O) antídoto para sua loucura era mais loucura. Estou ficando louco, pensou. Procura focar-se, percebe a vertigem e tenta centrar-se. Lentamente, vira as costas para voltar ao bar. Mas, estranhamente, quando começa a andar, ouve, bem baixinho, um voz que diz “filha da puta!”. Não era possível! Para e presta atenção. A voz cessa. Mas ele tem medo de virar-se. Convence-se que está louco e que estava ouvindo besteiras. Apavorado, retorma os passos em direção ao bar quando, repentinamente, a voz retorna “Filha da Puta!”. Ele reage como um louco, assustado, como quem entra feito um suicida no meio do fogo cruzado de um tiroteio, mas, nesse caso, a rua estava simplesmente vazia e silenciosa, o tiroteio já tinha ocorrido e ele parecia um louco. Saiu atirando nos corpos errantemente aos gritos. Ta, ta, ta. Findam-se as balas. 6 tiros. Ele volta o olhar para o olho de Zarcas, ensangüentada e vomitada. Pá. O olho dela estava direcionado exatamente ao dele! Ele estranha. Tenta lembrar se aqueles olhos estavam voltados àquela mesma direção de antes. Sente que ela, morta, está lhe olhando. Começa a se aproximar dela e, de repente, ela vira o olhar e se atira sobre uma arma, enquanto ele, lutando contra um fantasma, atira na pistolera, mas em vão. Estava sem balas. Isso dá tempo para Zarcas pegar a arma e, antes que ele entrasse foragido no bar, acerta um único tiro na parte de trás da cabeça de Dom Sebastian, que, 5 minutos após ser o homem mais poderoso e rico de El Pueblo, cai feito presunto na entrada do bar e derruba consigo um belo terno e o que seria o “Novo Governo Democrático de Chiapas”.

Os soldados saem à rua e vêem o corpo de Dom Sebastian à bolonhesa. Olham rapidamente para a rua para encontrar o responsável pelo assassinato e, pronto, mais 4 mortos. Zarcas levanta-se cambaleante, acode as amigas atrizes, e, enquanto as outras se levantam da farsa, ela passa pela porta do bar não sem antes mandar um recado para o corpo morto de Dom Sebastian. “Nojento!”.

Entra no bar fedorento e prepara um café quente. Zizinha, Zali e Zezão entram no bar ajeitando os cabelos e tirando a poeira da roupa e dos decotes.

- 205 mortos.
- 204 coiotes e um pilantra, corrige Zali.
- Cigarro?
- Taí.
- Justiceiro, Zizzo?
- Prenderam uns soldados. Tão com eles no outro bar.
- Chama eles.
- Agora não, to com preguiça.
- Beleza, então.
- O povo já foi avisado que deu tudo certo?
- O povo sabia que tudo daria certo desde antes porque com as Pistoleras o tiro nunca sai pela culatra.

6 comentarios:

Mari dijo...

O belo teatro, a bela espera da morte, que de morte, não era nossa!
Além de pistoleras, atrizes!
Zrá

Anónimo dijo...

Pistoleras Live Forever!
Mais q pistoleras... mais q atrizes... verdadeiras heroinas...
Boa jornada El Justiciero, ficamos agora todos a espera do próximo Post... do próximo vilão... da próxima aventura...
Besos y hasta la proxima...
Fettinha!

Zali dijo...

Zra zra zra!!!
Um barulho incessante, imortal que ecoa!!!
nao foi dessa vez!!!
novas vitimas! novas aventuras!!!
zraaaaaaaaaaaaaaaaaaa!!!!
um novo comeco!!!

ZARCAS dijo...

Zraaaaaaaaa!!!!!! Mesmo na ficcao a experiencia de ficar cara a cara com a morte eh muito intensa! Olhamos para o passado, avaliamos nossa jornada, identificamos os errros e acertos cometidos pelo caminho e decidimos o que realmente importa nessa vida..... Sem esquecer que o que nao nos mata.....nos fortalece. Uma vez Pistolera sempre Pistolera. A ansia de aproveitar cada minuto, cada oportunidade, cada sopro de ar.....so aumenta. O Deserto eh nosso e sera perciso muito mais que 205 coyotes para nos tirar dele!!!!!

Z'mba dijo...

Após essa epopéia brilhantemente narrada por El Justiceiro, é hora de reabrir as janelas do deserto para que volte a ventar...
Pistoleras, o deserto é e sempre será de vocês!

Zarcas dijo...

Z'mbaaaaaaaaaa vc por aqui....Vem com agente vem!!!! Faz tempo que eu nao pistolo no mesmo Pueblo que vc!!! Sds.