(OESTE – PARTE 1).
Não se trata da morte como fim de tudo, mas da faca na carne.
Justiciero ruma novas cidades sob o sol expressionista do entreguerras. Resolveu, de salto, sair. Zari estava sentada no meio de El Pueblo à espera das estórias. E não poderia mais contar com Justiciero. Agora, ele foge de El Pueblo. Não por medo dos homens - que conhece, nem pela fome – que come, nem pelo atraso – que caminha. Mas por outro motivo: mistérios já lhe enjoam. Cansou de estórias. Quer uma só História. Uma raiz. Nosso homem amadurece cedo.
Amanhece a manhã.
Afinal o que resta de El Pueblo? Aquela quase-vila sobrevive de raízes ou de mitos? De realidade ou de sonho? – Que seja de realidade, retruca mascado.
os homens daquela ex-pasargada caminham sob os chapéus entornados na mente esquivada. Evangélicos no trem. Protestantes. Católicos. Indígenas. Mulatos. Camuflam em cor marrom seus desejos. Seus anseios. Seus futuros. Vão: gado inconsciente.
O forasteiro sem orelhas foge, em busca da origem. Da raiz. Good bye. 6 km, mais 5, a vista vê. Voa o céu azul.
RESTAURANTE DO TOCHO.
Na cidade fria, uma meia dúzia de casas formando uma mearua. Aquele velho cenário de madeira empoeirada, dois três cavalos, uns moradores, o novelo cruzando a rua. Para o leitor, um clichê. Para El, um grande nada, igual a tudo. O de sempre. O finito. O mundo. Encosta o cavalo. Na varanda, um homem de 40 anos. O cachorro late pelo/contra o farasteiro. Prende o animal. Acena com a aba que lhe cobre o semblante. Entra, tira o chapéu, e pede o almoço. Espera enquanto ouve o rádio. Balcão sujo, repara. “Homem morre defendendo própria terra. 40 cabeças de gado são roubadas em Ticanos”. Come e sai.
Lá fora, um impresso:
“México contabiliza 30 mil mortes ligadas ao narcotráfico em 4 anos. Disputas entre cartéis de drogas pelo controle das rotas para os EUA e operações do Exército de Calderón foram responsáveis pelas mortes”.
- 30 mil, repete.
30 mil era um numero novo. El Justiciero estava acostumado com 5, 7, 14, 40 talvez. 30 mil, não. Algo que lhe escapara. 30 mil o que? Pessoas? Não seria Possível. Mas, enfim, portos outros. Não lhe diz respeito. Sua sabedoria residia em saber onde pisa os pés. Barata não travessa galinheiro. Monta o sólido cavalo. Acena. Bate as esporas. E vai. Mas ouve:
- Se segue pro leste, cuidado.
- Caldeiron, pensa
Cavalga o almoço sem pressa. Não há muito em que se pensar nos meios solitários e silenciosos do deserto. Leste? 30 mil? E. Em El pueblo, não havia dessas modernidades. Drogas, EUA. Massacres. A maldade, aqui, é uma curva na moralidade tão aguda quanto pode ser a da bondade. A audácia é uma pedra tão grande quanto um homem pode carregar. Não mais. Era um caipira pré-bomba atômica. Afinal, de que precisa um homem senão apenas de comida e lugar para dormir? Lá atrás, não havia leis. Homens são cabras. Não lhe encaixa a cabeça. O novo mundo não lhe diz respeito, conclui. Não diz nada. Não significa.
Mas era novo.
Claro. Claro. Em preto e branco estourado, claro. Claro amarelado. Claro esverdeado. Claro nem tanto. Ondulante clara a luz mareia o deserto. Se a serpente diz não coma, não coma – seduziu-se. E rumou para além do Édem. Longe dos padrões. Das não-leis. Das Pistoleras? Longe de si.
LESTE – parte 2 (continua)
sábado, 5 de marzo de 2011
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2 comentarios:
El, gosto de suas cartas, gosto de quando volta, gosto de suas angustias. O texto inspirador, sem saber estou viajando com vc. Zari sai de férias, ou mesmo, demetida pelo diretor. algo acontece enquanto vc descobre o mundo lá fora.
amote.
boa viagem, sempre
beijos
Zari
El, esse foi teu melhor texto acredite ou não! E existe um motivo..... o texto ao contrário dos outros que vinham mais da cabeça, veio do coração. Do coração de um homem que se surpreendeu com o que encontrou pelo caminho, e que espera que esse momento seja duradouro.... A vida realmente toma outro rumo nessa hora El Pueblo, lembrado com saudades, ou não, fica cada vez mais distante. Que esse novo caminho receba tudo que você entregou para o deserto e muito mais..... Não se esqueça de nós!!!
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