Toda pistolera tem além de uma madrinha, um padrinho. A diferença é básica. A madrinha é aquela que fica sempre do teu lado em todas as batalhas. Ela é um exemplo. Você se inspira ao ver de perto ela atirando, andando a cavalo, lutando, jogando bilhar. Cada pistolera tem um tipo de madrinha, e a minha se chama Zarcas. Já o padrinho te ensina coisas da vida apenas com as palavras. Ele vai falando, falando, falando e você só anotando num caderninho. Além disso, o padrinho sempre te receberá a qualquer horário do dia e da noite. A primeira frase que você anota no caderninho quando conhece seu padrinho é “Mi casa, tu casa”, por isso chamamos nossos padrinhos de Papi.
Mas hoje, não tem Trio los Panchos, nem el Justiciero, e nem Zizzo.
Hoje só tem Passado.
Numa arriscada viagem de madrugada pela carretera do deserto rojo, desviamos de um tiroteio de coyotes enfurecidos em busca da aduana de Tijuana. (mal sabem eles, que a aduana é nossa). Quando vimos que os tiros estavam próximos, saímos de la carretera e seguimos pela direita. E como estava de madrugada, não lemos a placa: Estrada do Passado. Eu e Zarcas continuávamos correndo com nossos cavalos sem reconhecer a estrada e quando paramos para ouvir o vento, vimos o castelo de nuestro Papito. Sem pensar duas vezes, entramos e fomos recebidas com uma grande festa com direito até mariaches.
Papito comemorou até a última gota de álcool, estava feliz que tínhamos ido visitá-lo. Convocou os melhores garçons, os melhores mariaches e a melhor comida. Papito está com problemas de visão há mais de 3 anos e por isso, não pode mais atirar. Mas mesmo assim, nos deu os melhores conselhos sobre la carretera que devíamos pegar sem correr riscos de cruzar qualquer tiroteio. Além disso, nos ofereceu o quarto mais aconchegante do castelo: o quarto roxo! A mistura mais maluca que já presenciei em toda minha vida: Dois blogs juntos. Nós pistoleras dormindo no País do Sonho.
Acordamos de manhãzinha, pegamos nossos cavalos e fomos em direção a la casita amarilla. Depois de 20 anos, eu voltaria a ver o meu Papi Zadah. E sem querer deixar um clima de ciúmes, o Papi Zadah preparou uma festa maior ainda que Papito. Depois de muito choro, Papi foi me contando o porque era na verdade meu papi. Zadah foi um grande pistolero na década de 90, ficou famoso quando fugiu de 30 coyotes num caminhão de leite, e é conhecido como o rei da peteca. Papi me batizou de Zari e assisti em grande cena um tiroteio entre minha madrinha e meu padrinho. Depois de quase 24 horas na casa de Papi, fugi pela janela da cozinha. Aprendiz, encontrei Papi ao lado de Faísca.
- Zari? Você lembra daquela frase que te ensinei quando você ainda tinha quatro anos e estávamos no Zarque Bang Bang?
- Lembro, Papi.
- Qual era? – pergunta ele.
- Que nunca devemos atirar em pessoas que estão a pé pelo deserto! Só devemos atirar em pessoas que estão à nossa altura, cada um com seu cavalo.
Papi beija minha testa, me abraça e me ajuda a subir no Faísca. Prometo uma visita breve e saio correndo com Faísca. Lá de longe ele ainda grita:
- Pessoas que invadem o deserto a pé não merecem balas!!! Eles são tão perdedores que os cactos dão um jeito neles!
5 comentarios:
Zari minha Zari, eu sempre soube que sua volta seria sensacional, mas voce me surpreende a cada dia. Sair para o deserto com voce nao tem tempo feio.....e uma parceirassa assim nao eh facil de achar. Eu ia escrever minha versao dos fatos mas voce disse tudo.....e a licao que tirei desse fim de semana prolongadiiiiiissimo foi que a estrada do passado, do presente ou do futuro para o deserto de Sao Francisco eh e sempre sera uma estrada que vale a pena se arriscar..... pois os Tiroteios que la acontecem trazem 100% de satisfacao garantida. Love you!!!
Zrááááá!!!!!!!!!
Existe vida lá fora!!!!! Muito obrigada por estar nessa vibe comigo!
zrazrazrarzrzrzararzrzraa!!
love u too!!
Que viagem! País do Sonhos e as Pisoleras num mesmo cartas. Isso bem que podia dar cinema.
Beijos!
o beleza que papi em esse diretamente do xingu
diretamente de xingu, papi!
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