lunes, 27 de julio de 2009

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El Justiciero engole seco mais uma vez. De olhos fechados agradece ao roteirista pela Argentina e pela vida. Abraça Zezão a agradece.

Saem caminhando com as espingardas empossadas entre as mãos e os ombros, segurando as rédeas dos cavalos nas outras, observando o sol - fogo e vida - que calmamente se apresenta e saúda-os com um “bom dia” calmo e grandioso. Zezão equilibra sobre os pezinhos entortados pra dentro a força de uma mulher dona do marido, da casa e das armas e a tranqüilidade de uma assassina objetiva e fiel aos companheiros. El justiciero absorve o primeiro dia do resto da sua vida...

Recorda-se, adocicado pelos restos de bolacha Bueno entre os dentes e aquela acidez alcoólica que sempre lhe confundia o pensamento ao mesmo tempo em que dava-lhe objetividade e coragem, de frases pretensiosas como “homem que fala de si na terceira pessoa, histórico invejável, conquistas incalculáveis, profundidade oceânica eticeteras vezes mil” e as contrapõe às cenas quase-fatais que acabara de viver. Tinha aprendido uma lição. Subira alto demais: entitulara-se tão forte, que arriscou colocar nas mãos de um qualquer uma arma e pretensiosamente gritar “Atire!” – como nos bons filmes de bang-bang. Mas, aprendera, esse fundo mundo seco e roído não é apenas um filme. É mais. É o cenário dos desejos das vidas de muitos outros. E, como ele mesmo havia declamado despretensiosamente, tratava-se de um deserto aberto para todos. E a arma não caiu nas mãos de um roteirista qualquer. Mas, pior, mesmo se tivesse caído, aprendeu que qualquer um pode tornar-se um grande atirador, se assim desejar. Foi pretensioso demais. Subjulgou os homens de El pueblo.

- Hoje a noite terá uma festa boa.
- É mesmo? O que pega hoje?
- Depois de 9 anos, Zraide volta para o deserto!

Por sorte, a arma caiu nas mãos de alguém com uma alma profunda, que soube, além de angular bem a mira e os cortes, fazer El justiciero cair de joelhos e sentir-se uma mísera formiga na história de El pueblo para, então, adocicar sua morte. Por piedade? Bondade? Não! Por grandezaa de espírito. Teve sorte.

- Não imagino como esteja Zraide.
- Mesmo estilão.
- Pago para ver.

El justiciero é bom para falar dos outros, do mundo, de política, de poesia, grandificar a vida, o significado dos fatos, dar-lhes história, mas não sabe falar de si mesmo. Enrola-se com as palavras. Sabe reagir ao mundo, mas não a si mesmo. Precisa dos outros, mas, antes, encara-os para dominar-lhes o movimento. O deserto faz isso com as pessoas. Tornam-se produtos do meio social e físico em que vivem. São homens fortes e de caráter, mas vivem em um deserto profundamente solitário...

- Deve estar com sede.
- dos infernos.
- Você caiu na mais velha das armadilhas...
- Sou tão vulnerável como qualquer cabron aqui.
- Mas é metidinho à besta.
- Não sou eu que sou. É o deserto que pede que eu seja...
- besteira sua.
- Besteira ou não, não espere que eu mude. Mesmo abalado, tenho um nome a zelar nesse tiroteio.

Encapou o chapéu. Zezão seguiu reta sem dúvidas, como sempre. El Justiciero deixou o sol engrandecer-se sobre El Pueblo, que já aparecia no horizonte.
- Lindo dia, não.

- Como sempre, Justiciero. Como sempre...

Qualquer palavra a mais seria destituída de sentido. A história de El Pueblo estava mais uma vez, como sempre esteve, aberta aos novos forasteiros. Mas, mais uma vez, como sempre, para aqueles que a encarassem de frente.

domingo, 26 de julio de 2009

La muerte del Justiciero ??? (Parte II)

a dois quilômetros dali, no meio do deserto, distante de nada, parou em pé:- vamos logo com isso, RO-TEI-RISTA! – ecoou...

Sem sinal nenhum, sentou no meio da estrada. Abriu um pacote de bolachas Bueno de chocolate e comeu, uma por uma. Depois de 7 bolachas mastigadas, a papa, o seco, a sede. Tentou enganar a mente e fingiu se interessar pelos cactos. Não resistiu e comeu a oitava bolacha, engoliu com muito esforço e rezou por um copo d’água.

Pausa! Como disse mesmo El Justiciero, o roteirista era medíocre. E se ele era medíocre, el justiciero pode morrer até mesmo engasgado com as bolachas ruins de chocolate e secas. Pode morrer também de sede. Pode morrer atropelado, estuprado, assassinado. Pode até cair de mau jeito de seu cavalo e quebrar o pescoço e não ter a sorte de ficar tetraplégico.

Mas (sempre tem um mas) a recém pistolera era mais medíocre que o roteirista. Tinha muito mais sangue em seus olhos e tinha em suas veias a vingança fluindo. Ela tinha sede, quase a mesma sede del justiciero. O roteirista lava suas mãos, porque afinal el justiciero é ameaçado por sua e única falha no tiroteio da redação. Não exterminou direito e ainda coloca a culpa no roteirista. Ora bolas Justiciero! Vamos logo com isso. Aceitou tão rápido a morte que nem se justificou em querer matar a pistolera antes. Ficou ali, quieto esperando a morte chegar. Não lutou e nem matou direito. Mas que coisa mais previsível, que coisa mais sem graça. E agora fica ai sentado, pensando na vida, comendo bolachas de chocolate como se fosse a última vez. Se entregou tão rápido, saiu até del pueblo. Saiu sem se despedir.

A Vingança chegava ao som de tango. Melancólico, forte, raiva, choro. Essa é a sua trilha sonora, el justiciero. Nem trio Los Panchos estavam ali para te salvar dessa melancolia cantada ao bom e velho sotaque de nuestros hermanos. A dança estava preste a começar.

A noite nasce ali, bem ali, no horizonte da estrada em que el justiciero decidia se comia ou não a última bolacha do pacote.

- Se eu comer a última, eu não caso. – falou alto el justiciero.

Silêncio do deserto.

- E também pra que eu gostaria de casar???? – berra ele ao universo.

O vento assopra.

- Vuelve, como se vuelve siempre el amor, vulevo a vos con mi deseo, con mi temor, con un destino del corazón, como los aires de pueblo. Canta ela.

El justiciero chora desesperadamente ao ouvir ela cantando Carlos Gardel. Se levanta, joga o pacote de bolachas para o lado e se entrega aos braços daquela mulher. E juntos, dançam o último tango de sua vida ao nascer da lua cheia. A sombra no chão, as coxas que se entrelaçam, o amor, o respeito, o desejo. O tango tira el justiciero por alguns instantes do alvo. Com a rosa na boca, el justiciero se apaixona por aqueles novos olhos. E se convence que aquela seria a sua última troca de tiros antes de sua morte. Sorriu, agradeceu até o roteirista. Já que já ia morrer mesmo, ainda ganhou essa boiada com uma argentina, dançarina de tango, e gostosa. Recarrega suas armas, baila sozinho pela estrada, volta, pega no braço da mulher:

- Como te llamas, mujer de mi corazón?
- Venganza!
- Que rico! Quieres bailar conmigo esta noche?
- Y tu que? Creas que venir hasta aqui hacer outra cosa?
El Justiciero entregou-se a vingança, sem ao menos perceber, que era ela, a pistolera recém-nascida naquele fajuto tiroteio. Se entregou ao tango como um pato. Devia ter comido a última bolacha.

Sob a Lua Cheia, fizeram fumaças, trocaram os calores dos corpos, degustaram as novas peles que jamais seriam tocadas novamente. O beijo, o cheiro, o suor. Todos os últimos. El justiciero estava deitado pelado sob a estrada. Estava exausto, satisfeito e feliz. El Justiciero estava entregue. Além de tudo, estava apaixonado pela dançarina de tango. Pensava que se lutasse contra a sua morte, poderia viver muito bem longe do deserto ao lado de sua nova amada. Ouvindo tangos todos os dias, e amando como nunca amou. Tolo! Não desconfiou em nenhum segundo, que sua nova paixão era a morte em sua fuça. E ela, justiciero, não vai te matar com pistolas e armas. Muito menos com granadas. Ela é muito mais esperta, não quer chamar atenção, não que nem lutar com você. Até porque, aos poucos ela também sentia um amor por você. Mas ela se chama venganza, estava com muita raiva e esperava você dormir em seu colo, para aplicar uma injeção em seu braço.

Que morte mais tranqüila, mais ingênua, e sem sangue. E lá vai... el justiciero apoiando a cabeça no colo da venganza, ela fazendo cafuné e el justiciero preferindo esperar a morte para o próximo dia, já que o roteirista demora uma eternidade para acabar logo com essa história. O que haveria de tão ruim dormir um pouquinho no colo de sua amada e acordar só amanhã e amar mais uma vez la venganza? Ele adormece feliz. E la Vengaza gargalha alto, mas muito alto, tão alto que até as estrelas escutaram a vingança saindo de seu corpo e virando realidade. A injeção numa mão e o braço del justiciero em outra.....

Um único tiro. Certeiro. Atravessou o cérebro. Ele não acordou. Mesmo com tanto sangue em seu rosto. O amor tinha acabado ali. Jamais dançariam tango. Jamais se amariam embaixo da Lua Cheia. Era o fim de um amor. Bem mexicano. O roteirista decidiu. Ia ser mais fácil assim. Já que não lutou mesmo pela sua vida, já que nem estava ai. Já que só achava defeitos no deserto, resolveu colocar pilha na Zezão para decidir tudo aquilo ali.

Explico a cena do crime. El Justiciero dorme deitado sob a estrada e com a cabeça apoiada no colo da dançarina Argentina. No momento em que a Venganza daria a injeção no el justiciero, Zezão surge emputecida e atira pelas costas no cérebro de Vengaza. O corpo cae sob el justiciero e o suja de sangue. Ele, sei lá porque, acorda depois de 30 segundos:

- Eu morri?
- Não! Deveria. Mas te salvei.
- De quem?
- Da Vingança!
- Era ela?
- Eu não sei, seu filho da puta. Fiquei sabendo lá no pueblo que você estava com uma mulher que ninguém conhecia aqui na estrada.
- Mas quem me viu?
- Não importa. Importa que casamos no mês de junho com o pacto que você teria 10 homens e eu teria 10 mulheres. E vc mesmo assim, já foi pular a cerca?
- Mas achei que ia morrer, Zezão. Foi assim... apaixonante!
- Mais uma palavra, e eu mudo de idéia e te mato!

El Justiciero engole seco mais uma vez. De olhos fechados agradece ao roteirista pela Argentina e pela vida. Abraça Zezão a agradece.

- Vamos embora logo. Hoje a noite terá uma festa boa.
- É mesmo? O que pega hoje?
- Depois de 9 anos, Zraide volta para o deserto!

viernes, 17 de julio de 2009

La muerte de El Justiciero? (Parte 1)

na noite desta quarta-feira, às vespas ásperas esperas e pêras desta ávida mole melada trágica noite azul, fui profética e pateticamente informado sobre a minha irremediável e desejada por muitos morte. frente à carta – se é que tinha status para ser chamada de “carta” – conservei meu silêncio. num dia qualquer, vi-me defronte a um futuro vazio.

- por quê, pergunta o protagonista do filmeco americano, esse tipo de anúncio que muda completamente a ordem natural das coisas, que fode tudo numa só tacada, acontece sempre em uma situação corriqueira, como durante as compras no supermercado, tomando café da manhã, ou abrindo o email, ou preparando um bauru? engoli seca a dramaticidade bíblica à anuncio do anjo gabriel à virgem maria através um mísero recadinho de guarda-napo no bar princesa de la margueritta. os roteiristas modernos adoram essas tragédias meio despretensiosas que, atormentando os arrastados cidadãos cotidianos, entretêm o flácido público nas poltroninhas aveludadas.

el justicero, homem que fala de si na terceira pessoa, histórico invejável, conquistas incalculáveis, profundidade oceânica eticeteras vezes mil, viu-se, pela primeira e, provavelmente, última vez nas mãos de um(a) roteirista medíocre que resolvera, assim como quem escolhe o número do lanche num fast-food, decidir qual seria a data e hora para matá-lo. é impressionante como o ser-humano pode trocar 80 anos de dignidade por uma trepadinha com a garçonete antes de chegar a comida. as coisas giram giram e sempre caem com a manteiga pra baixo...

como de praxe, o agora entricheirado homem tetra-trincado terrácida vermelha afundo entornou mais algumas tequilas e postou-se idêntico. desceu garganta abaixo o destino mórbido a que sua biografia estava destinada. o homem, meus filhos, é maior que deus. e a mass media, maior que os sonhos humanos. inverte-se a ordem. modern times. el justiciero, que nunca teve que tratar com essa gente moderninha, de repente, era uma dançarina de bikini num programa de auditório. o mataram em troca de audiência. e pouca audiência... recostou e passou a conduzir-se num raciocínio retórico eletrônico retorcido acerca das prováveis probabilidades para aquele quebra-cabeça sem encaixe. e, logo, tão logo logou as peças, viu: andava meio sumido... pronto. estava sendo assassinado porque estava meio por fora, meio de lado, meio esquecido, meio sem público, meio a-político.

nessas horas, um homem só tem um rumo imediato. afundou-se encharcado nos entornos solitários do pequeno vaso de doses contadas da maldita e foi-se indo longe e vago rumo à resolução de si mesmo sem muito saber porquê, mas como quem crê que detém os motivos de seu próprio fracasso, arquiteto de sua própria forca. ele era homem que assume sempre, de peito exposto, até o que não fez. e foi o que fez. assumiu, antes de todos, sua morte.

ajeitou-se num sofá encardido nos fundos do bar, sob aquele ar acumulado naquele caixote de madeira velha e podre para por o bolor do cérebro em coma enquanto assistia àquela tv de 14 polegadas policolor. acompanhou um filme americano, que, como um bom filme americano, sempre acaba com um negro perseguindo ou sendo perseguido por um branco, um deles, policial, e, após 2h de investigação sobre as origens da droga ou do dinheiro, saem explosivos nova iorque afora. el justiciero, se fosse americano, seria negro, e, mais que isso, seria como o cara na tela: denzel washington. mas tudo isso é passado. agora, el justiciero era mais um barrigudo no fundo do boteco...

acordou com camisa presa embaixo do braço, aquela sede dos infernos, acendeu um cigarro de palha, nem fechou a camisa, falou um “oi” meio rosnado, encapou o chapéu, empurrou a portinha, encarou o sol, saiu pela rua, foi observando as pessoas, quase não pensou que eram seus últimos minutos, e se foi. a dois quilômetros dali, no meio do deserto, distante de nada, parou em pé:

- vamos logo com isso, RO-TEI-RISTA! – ecoou...

viernes, 3 de julio de 2009

Essa Liberdade eh pra Nos!

A grande e insaciavel expectativa de novos e encalecedores caminhos a serem tomados nao deixa pistoleras dormirem com as cabecas nos travesseiros! Deixa dormi-las com as cabecas deliciosamente deitadas sobre os peitos dos pistolados ensanguentados!
Vontade essa que soh se ve passar quando concretizada!!! Entao sempre nos aproxima de efetua-los de forma mais do que perfeita, como tambem gralmurosa!!!
A sede pela vinganca ou pela nova conquista jamais passa. Pode ficar no maximo adormecida! Mas com um leve cutucao, se desperta fortemente! E nos da a ambicao pelo gosto quente do sangue em nossos labios!
Olha la... ja esta ela por despertar gritantemente em alguem que andava escutando seus suspiros de sono ha um bom tempo...

jueves, 2 de julio de 2009

O significado de liberdade Parte II

Restou apenas uma, justiciero. Apenas uma menina, quase mulher, de corpo feito e mente em processo de construção. Abaixou-se rapidamente quando ouviu o primeiro disparo das 350 balas. E sobrou, intacta, esticada sobre o chão. Por alguns minutos ela tinha certeza que tinha morrido. A respiração só voltou depois de 10 minutos engasgados com o próprio choro. Chorou mais 30 minutos quando reparou que só tinha sobrado ela na redação. Não era a hora de morrer? Era uma enviada de Deus? Teve sorte por um segundo? Ou será que el justiciero teria ficado com dó dela? Talvez ele não queria matá-la... talvez ela sabia de tudo desde do principio, talvez ela fosse uma compañera...daquelas mulheres que freqüentam o deserto, mais conhecidas como pistoleras.

Levantou-se, enxugou suas lágrimas, caminhou pelos corpos e chorou mais uma vez. Engoliu seco e deitou sob os corpos. Num ato carinhoso de adeus, lambeu o sangue de todos os mortos. O gosto amargo e quente grudou em sua própria boca. Juntou saliva e engoliu....sentiu prazer. Jurou vingança!

Comprou no meio da estrada (Redação – Pueblo) a melhor e a mais moderna arma. 700 tiros por minuto. Deixou quase suas roupas íntimas como forma de pagamento. Sentada já em seu cavalo apenas de calcinha e sutiã, lembrou do que tinha esquecido. Esqueceu do teste da nova arma. Voltou à loja. Testou durante 3 minutos na testa do vendedor. Aproveitou então para testá-la num ângulo de 360 graus. A loja foi ao chão. Pegou sua roupa, se vestiu e subiu no cavalo. E sumiu ao pôr do sol na estrada sentido pueblo. Só que ela não sabia que o vento vinha em sua direção contrária. E ninguém do pueblo sabia, que naquele fim de dia, esse vento passaria por lá.

A morte del Justiciero estava pré-destinada, só ele que ainda não sabia e comemorava sua grande atuação num bar de esquina com alguns velhos marinheiros.