miércoles, 28 de enero de 2009

De volta para casa


O dia amanhecia e nós ainda estávamos acordadas. Estavamos comemorando a última batalha vitoriosa. El Justiciero aparece pela janela com um recado que mudaria nossas vidas:

- Las mascaradas están llegando. Ellas quieren la aduana de Tijuana!!!

Nos olhamos, estavamos cansadas, exaustas, suadas e com sono. E precisávamos mapear um plano. O melhor. E o plano só podia ser com as mesmas armas de las mascaradas.

- Vamos lutar com máscaras! – grita Zarcas

Cada pistolera colocou uma máscara no rosto e foram direto para o Underground no deserto vermelho. Era óbvio que elas estariam ali para tentar dominar nossas terras. Por erro ou sorte do destino, chegamos antes que elas no bar. Pensamos até que tinhamos errado o local. Mas Zezão nos garantia que deviamos esperar. Quem espera sempre alcança. Pedimos nossas tequilas às 9 da manhã e esperamos. De repente, o silêncio domina o deserto, e o vento assopra mais uma batalha. O silêncio é quebrado por passos fortes, lentos e marcantes ao som da madeira podre. A porta abre lentamente, entra uma a uma, sempre com um intervalo de um vácuo. Quatro mulheres mascaradas decididas e prontas para lutar. Elas sentam no balcão e pedem também doses de tequilas. Viram as doses em questão de segundos, batem na mesa, viram e gritam:

- Donde están los coyotes de mierda de Tijuana???

Um ar de guerra se instala no bar. O vento pára, a areia não se move e os cactos ficam intactatos.

- Eles morreram na semana passada. – fala com voz tremula o dono do bar

- Quem os matou???

Os sussuros de Zezão eram os mesmo em nossos ouvidos: ainda não, ainda não.

- Umas mulheres que são procuradas pela polícia do deserto. – responde o dono.

Os sussuros: ainda não, ainda não.

- Y donde están estan las putanas de mierda, pues queremos matarlas!!! La frontera de Tijuana es nuestra!!!

Sem pensar, Zezão que nos pedia tempo, levantou com sangue nos olhos e deu três tiros para cima:

- Las putanas son vosotras y la aduana es nuestra hijas puta!!!

O bar treme, os homens que bebiam beijavam o chão e ali bem no meio existia um confronto. De um lado las mascardas e de outro las pistoleras. Elas se atracam, puxam os cabelos, dão voadoras, socos e tapas. O sangue vermelho e ardido de ódio se espalha por todo bar. Em meio de um golpe familiar, eu aponto a arma para aquela mulher com olhos conhecidos, azuis como as águas cristalinas do mar. E na troca de olhar, não consigo atirar, percebo. Era ela: Zela. A velha e mais nova pistolera. Enquanto os tiros eram trocados, nós duas arrancamos as máscaras e nos abraçamos. A guerra se cessa.

Entra pela porta principal Trio Los Panchos atrasado:

Quando chove no deserto
O sol deita e a água rola
O sapo vomita espuma
Onde um cavalo pisa se atola
E a fartura esconde o saco
Que a fome pedia esmola

Suas mascaradas por aqui choveu
Suas mascaradas por aqui choveu
Choveu que amarrotou
Foi tanta água que meu cavalo nadou.

As pistoleras se abraçaram, choraram e sorriram. A Zela depois de 5 longos anos estava de volta. Não era ilusão, a pequena pistolera tinha sido raptada durante uma guerra perdida no deserto de Salazar. Naquela noite Zela começava uma nova história com las mascaradas e desde daquele dia nunca mais tivemos notícias suas. Tinhamos a plena certeza de que Zela estava morta.

Quando las mascaradas perceberam o reencontro das pistoleras, elas feridas e com medo fugiram pelas janelas deixando os rastros de sangue pelo bar.

A festa começou ali mesmo cheio de sangue no chão, a esperança de Zela estava de volta, porque afinal, todo mundo volta um dia para o deserto.

No deserto quase todas as justificativas se resumem no vento


A revolução não vai passar na TV. E nem a novidade. Quem mora no deserto não tem o costume de ver a TV. Para falar a verdade poucos tem um aparelho em casa. As notícias estão no jornal impresso. E os avisos, os procurados e as recompensas, todos estão grudados em alguma parede.

Enquanto a TV distrai as pessoas, nós observamos e respeitamos o vento, pois só ele é capaz de trazer algo ao deserto. O vento quando vem, normalmente vem acompanhado. É ele que traz as novidades. Traz o cheiro, a chuva, a aventura, o otimismo, a colheita, o desastre, as festas e as guerras. E pode acreditar, os ventos são diferentes. Tem ventos que trazem coisas do passado, quase do mesmo jeito que, outros ventos levam o passado para bem longe.

Os avisos estavam em todas as paredes. Todo mundo sabia. O vento que chegaria ao deserto essa semana traria só uma coisa: Romance. E não existe vento pior que esse para las pistoleras. Só que ninguém sabia que o vento chegaria um dia antes bem na hora em que eu andava sozinha pelo deserto con mi cavalo Faísca. O vento veio tão forte que quase arrancou os cactos do chão e meu único refúgio foi la casa del señor Zara Jevo. Para minha sorte, la fiesta del viento estava só começando na casa dele. E ali me deparei com el Justiciero y Zarcas dançando na pista. O baile estava de puta madre!! O vento infestava o deserto com cheiro de rosas e eu me deparei com um coyote da banda que tocava. E o coyote tirou o meu foco. E quando você tira o foco de uma pistolera aprendiz, o tiro meu bem, sai quase pela culatra.

No dia seguinte, Zezão entrou em casa aos berros. Dizia que o vento tinha sido tão forte que algo tinha mudado no deserto. Eu e Zarcas pegamos nossos cavalos Faísca e Ventania e fomos direto conferir a novidade. E realmente algo tinha mudado com o vento, era uma nova história. Seis forasteros modernos atravessavam o deserto de kite skate ao som de Death or Glory de The Clash:
"death or glory becomes just another story

death or glory becomes just another story
'N' every gimmick hungry yob digging gold from rock 'n' roll

Grabs the mike to tell us he'll die before he's sold

But i believe in this-and it's been tested by research

he who fucks nuns will later join the church"

E como toda boa música tira o foco de qualquer pistolera, estávamos ali, sem nossos cavalos, no meio do deserto dançando o novo som.

Eles nos rodeiam e nos convidam a deixarmos o deserto e nossos cavalos para trás. E as três ali envolvidas pelo romance e pelo cheiro das rosas trazidos pelo vento, quase se entregam... senão fossem as granadas jogadas por El Justiciero y ZiZZo ao som de Politiks Kill tocada por trio Los Panchos:

"Politik Kills

Politik use drugs

Politik use bombs

Politik need torpedoes

Politik needs blood

That's why my friend it's an evidence:

Politik is violence
Politik need force

Politik need cries

Politik need ignorance

Politik need lies
Politik Kills"

A poeira. A areia. Os corpos não chão. Outra vez. Todos eles ensangüentados e mortos. Nós três ali de pé sem nenhum arranhão. Zizzo e El Justiciero não falam nada, apenas caminham pelos defuntos e felizes recolhem os skates e os kites.

- Mandamos bem Zizzo. Agora nós é que vamos andar pelo deserto com isso daqui.
- Mandamos muito El Justiciero. Quero ver outros babacas entrarem aqui no deserto e vocês pistoleras, senão chegássemos a tempo, vocês teriam ido embora com esse ar de romantismo.

No deserto quase todas as justificativas se resumem no vento.

sábado, 24 de enero de 2009

O encontro!!!

Cheguei de minhas férias em um Pueblo bem distante... Um pueblo de águas mágicas com um povo de pele beijada pelo sol e olhar convidativo. Mas desta vez eu estava lá para recarregar minhas energias e não para descarregar minhas pistolas e o único jeito que encontrei para deter meus impulsos foi deixando minhas armas para trás! Hoje estou de volta... e ao avistar Zizinha me esperando na entrada do deserto com a maleta, eu ja sabia que eu não poderia me desviar do meu caminho nem mais um segundo. Seu olhar era determinado e contagiante. Agarrei a maleta com todas as minhas pistolas e cruzei a fronteira.
A companheira anunciou que o Justiceiro estava vagando triunfantemente pelas redondezas. Eu tinha minhas dúvidas, mas as guardei em silêncio.
Ao chegar ao nosso destino, imediatamente avistei inúmeros alvos, mas a princípio fiquei só observando e junto com as companheiras dancei incansavelmente ao som do trio Los Panchos. Los Panchos não são apenas meros músicos, eles incendeiam nossos corações com suas músicas, nos hipnotizam com suas vozes e nos incentivam com suas palavras.

Algo estava diferente aquela noite... mas não sabia dizer ao certo o que era. Fui buscar uma Marguerita quando notei uma escadaria escondida e desconhecida. Meu corpo foi atraido naquela direção como um imã e, sem perceber, já estava com a pistola na mão. Dessa vez nao esperei para vê-lo, dentro de mim sabia que o tiro seria certeiro....... e foi. A sede de atirar era tanta que não resisti. O tiro foi fatal, ele não sobreviveu para contar historia.

Satisfeita voltei para a multidão e foi ali que me deparei com quem tanto esperava....El Justicero!!!! Ele estava encostado no balcão, um ar misterioso, exalando coragem, segurançaa e mais do que tudo sex appeal. Naquele momento entendi seu papel em nossas vidas, ele não precisaria se juntar as pistoleras, ele só precisava estar lá. Sua presenca nos dava ainda mais força e seu olhar....ah seu olhar......somente quem teve a sorte de cruzá-lo consegue entender...

“O encontro de Zizzo e El Justiciero” ou “A Miséria da filosofia”


Existe uma diferença tênue mas fundamental entre o que um cabrom aparenta ser e o que realmente é. Trata-se, em essência, da profundidade de deserto percorrida pelo forasteiro.

Um mesmo homem, com a mesma aparência, as mesmas palavras na boca, o mesmo olhar, pode, dependendo da distância que percorreu no deserto, suportar ou não uma mesma pressão. Frente a frente com um coiote, pode manter o sangue frio e, com um tiro, acabar com a cena, ou fraquejar e cair feito um presunto velho.

Muitas vezes, a história de um povo, ao invés de ser decidida pela soma das forças sociais em luta, recai, por um lapso, sobre o ombro de dois, três, ou até apenas um homem. Trata-se de uma ironia da História que, repentinamente, deságua todas suas fichas numa só foz.

E se Fidel não sobrevivesse à Sierra Maestra? E se Lênin não morresse e deixasse Stalin tomar conta do Partido? Será que, sem esses personagens, a História seria a mesma? Ou será que a própria História é que gera tais individualidades e, portanto, necessariamente figuras como Fidel e Lênin teriam brotado do seio da História?

Há, nisso, uma relação dialética.

Mas, diferentemente do resto do mundo, o que é exceção lá fora, é regra aqui dentro. O destino da história de pueblo geralmente define-se por detalhes. O mísero instante no qual treme a mão do cabrom que perde o raciocínio por um segundo. O deserto não perdoa. No deserto, a relação dialética das classes sociais é substituída por duelos diretos sem intermediários.

A dialética social é transportada para a personalidade dos indivíduos. E nisso conta muito a relação entre a imagem e a essência do sujeito.

A imagem de um cabrom é sua arma e, sua arma, muda sua essência. Mas, se esta imagem não provém de uma longa caminhada solitária no deserto, é uma imagem falsa e frágil. É uma imagem que pode lhe trair quando menos esperar...BANG!

No bar de la Princesa Marguerita, geralmente, as máscaras caem... ensaguentadas, e mudam o rumo da história de pueblo.

Ouvi rumores de um velho cabrom conhecido de volta a área. Nunca o vi, só ouvi falar. Zizzo. Só conheço a imagem. As pistoleras, cuja essência conheci em uma grande macarronada que causaram por lá, apostaram na figura. Eu, que não sou pistolera, apenas masco meu tabaco em silêncio e, geralmente, com esse simples gesto estendido por dias, vejo as máscaras caírem sem mover uma palha. Zizzo, quem és tu? O deserto é de todos. De todos que sobrevivem ao deserto. Mas, até agora, só vi imagem.

Bueno, fora isso, dia desses, sob a lua fria do deserto, sonhei com as pistoleras. Após a macarronada que darramaram no bar de la Princesa Marguerita, sonhei com elas. Geralmente, não falo dessas intimidades. Na verdade, geralmente, nem sequer falo. Mas vi, sob o luar, as pistoleras celebrando livremente embriagadas noite a dentro cercadas por 20 coiotes. Situação de perigo, pistoleras! Mas, sabe-se lá por quê, os coiotes não atacaram. Era como se respeitassem algo das forasteiras... De certa forma, viam nelas, uma convergência tensa e bela de suas imagens com sua essência e, por isso, apenas olhavam. E elas, safadas, e com direito, gostavam.

Mas que se foda, foi só um sonho. A mi pueblo, ternura!

jueves, 22 de enero de 2009

A volta


O vento. A areia. O sol. Aquela tarde anunciava. Não um crime, mas um personagem a mais. Tudo porque ele se entregou também. É assim, quando tudo parece em ordem, bate o vento. E o vento levanta a areia. E depois da areia, o sol arde. Assim como qualquer dia no deserto em que o vento traz o cheiro de chuva. É na chuva que você desconfia que pode vir a tempestade. Enquanto existem pessoas que deitam na cama sobre o travesseiro e acreditam que tudo está seguro, existem outros que já seguram a faca. Eu levo a faca presa em minhas pernas.

O sol se desmanchava naquela tarde e deixava todos seus tons pelo céu. O vento levantava a areia e a areia enganava a visão. Mas a visão era uma só. Lá estava ele sob seu cavalo. Valente, com o peito estufado e com um olhar no horizonte. Zizzo chegava devagar, mas chegava chegando. Chegava sem disparar qualquer tiro, mas sabia o tiro certo que daria.

O pueblo parou. Fazia tempo, um bom tempo em que ele tinha ido embora. As pistoleras tinham perdido as esperanças, mas é quando perdem as esperanças que o vento trás de volta aquele que sempre pertenceu, mas por algum engano se enganou. A chuva. A chuva lavava o deserto para chegada. Molhava e inovava o novo solo. Com a chuva vinha o vento e o vento levanta a areia. E depois da areia, a tempestade.

Ele entrou no bar de la Princesa Marguerita pela porta principal. O vácuo. O silêncio. Os olhares. Os brindes. O vento, a areia e a tempestade. Os cavalos correm, gritam e páram. A frase gravada em cada peito:

- Sentou, sorriu, dividiu. – fala calmamente Zizzo

As mãos escorregavam pelo balcão na secura de mais um gole. E a cada gole, um brinde e a cada brinde, um trovão. E no silêncio de um deserto acompanhado pelo barulho da tempestade, os tiros.

- Vem com a gente? – pergunta Zezão

- Não posso, acabei de chegar. – afirma Zizzo

A luz se apaga. E no silêncio de um deserto acompanhado pelo barulho da tempestade, novamente os tiros.

- Tu no tienes la culpa mi amor de tanto cachondeo. – sussurra Zarcas

A luz do bar volta. Todos estão no chão. Foi o trovão. De pé somente as quatro pistoleras e Zizzo.

Trio los Panchos entra pela porta dos fundos:


bang bang, he shot me down

bang bang, I hit the ground

bang bang, that awful sound

bang bang, my baby shot me down.

down down d-down......

Bang bang, I shot you down

Eu olho para as três companheras. Elas estão com um sorriso maior que o próprio corpo. Ele voltou, assim como deve ser. Pouco a pouco todos voltam para o deserto. E eu levo a faca presa em minhas pernas.

lunes, 19 de enero de 2009

O Passado de El Justicero

No deserto, uma história nunca acaba quando termina...




O horizonte laranja amarelado espraiado no horizonte repousado sobre si mesmo anunciava uma tragédia. Quando o deserto está silencioso demais, sob a falsa aparência de preguiça, sob um chapéu, esconde-se o olhar, e, sob o olhar, uma mente acordada, um falso sono, uma falsa desatenção. No méxico, até os mexicanos são falsos.

O personagem que entra na história, esfumaçado pelo calor que sobe da terra quente na linha ondulada no horizonte, tem um passado rouco e seco enga(rra)sgado goela abaixo, e uma ou duas paixões perdidas assassinadas a facadas, sem o glamour de um Charles Bronsom, com o sangue falso de um molho pré-pronto temperado. Nosso herói é um Charles Bronsom cujo tiro saiu pela culatra. Um ator sem câmera.

Mas não se engane. El Justicero não cai com um assobio. Não cai com um tiro. É vaso ruim. Cai e não quebra. Cai, de novo, e, de novo, não quebra. Já caiu 1000 vezes. E não quebra. O sol traiçoeiro do deserto calejou seus pés, sua psicologia e seu coração. E, de novo, não se engane.

Esse cão em forma de homem e esse homem em forma de cão não tem amigos, nem história, mas tem raízes. Sua força é sua tragédia. Sua força é seu povo. Sua memória é um deserto aberto em uma só cor derretendo no encontro com o horizonte. É um quadro. Não tem verbos. É silenciosa e solitária. Sem fim, sem passado, sobre um cavalo tão ruim e calejado quanto o dono.

No seu estômago corre seca a mesma acidez de Pueblo. Acidez de 1000 cigarros fumados em sequência, sob o sol de 1000 kg. Acidez redundante e redemoínica que tempera a pele dura de seu povo.

Um p(r)o(f)eta urbano dizia: “Tenha fé pq até no lixão nasce flor”. E nasceu.

18 de janeiro, 2009, sol de 1000 kg, Bar La Princesa de la Marguerita, homens bêbados silenciosos mascando tabaco, luz de lamparina, cheiro de pó, arroz e farinha, entram, uma a uma, entreabertas as portas ruidosas, sol no saloom: zrá zrá zrá. Atacadas por coyotes, sujas e de roupas rasgadas, suadas, sugadas, armadas, arranhadas nos seios jovens, e sérias, sérias de tão secas, e sensuais...

- Água.

A fome de tudo que sentiam aqueles mortos de fome poderia ser saciada ali, com aquele banquete de tempero doce e liso.

- Cielo, no queres...

(Tum!)

- El próximo maricom que decir uma mierda que sea, cai muerto.

Silêncio novamente. Mas, desta vez, outro silêncio. Não o silêncio sem resolução que sonorizava a vida no deserto. Um silencio inquietante. Som de água no copo. Copo na mesa. Copo na boca. Água na boca, no rosto, no corpo, nos seios, nas coxas. Tudo, multiplicado por 3. Gostosas...

- Chicas, donde vienem?

(Tum!)

Cai morto o coitado que, a primeira vez que viu a medusa, virou pedra.

Na sequência, um a um, foram virando pedras secas para coyotes.

Sobrou El Justicero que, sequer, olhou as chicas, respeitando o climax que instauraram no ambiente. Ele, cão do deserto, sabia que “quando o deserto está silencioso demais, sob a falsa aparência de preguiça, sob um chapéu, esconde-se o olhar, e, sob o olhar, uma mente acordada, um falso sono, uma falsa desatenção”.

As 3 se sentaram em torno dele e disseram:

- Vem conosco?

Ele, como se previsse a pergunta, disse:

- Não.

As 3 se levantaram, e saíram, deixando para trás, 4 corpos ensangüentados e El Justiciero, o cão do deserto, esfaqueado no coração com 3 estacas profundas.

No deserto, leitores, tudo o que é sólido, se desmancha no ar.

viernes, 16 de enero de 2009

Verdadeiras Pistoleras

El Justiciero

Uma noite linda no deserto, o céu estrelado, uma lua sorrindo para todos que a contemplavam.
Nesse exato momento me encontro sozinha observando e pensando na vida, quando de repente percebo um vulto, com uma silhueta conhecida. Era a BOA SAMARITANA, que conseguiu se soltar da fogueira, naquele tiroteio com os coyotes.


A única coisa que ela não sabe, é que para ser uma PISTOLERA, tem que ter alma e coração de pistolera, que não é sair atirando de qualquer forma ou em qualquer pessoa, e sim conquistando as mesmas com alegria e energia que contagia a todos.


É dançar sem se preocupar se está no ritmo certo e se preocupar apenas com o ritmo das batidas do seu coração.
É ser feliz sem atrapalhar a felicidade alheia.
É se sentir Mulher
É ser Pistolera...
...simplesmente !!!

miércoles, 14 de enero de 2009

La Despedida


Eu voltava do pueblo San Sebastian treinando a minha mira. Cada pássaro que pousava em um cacto virava minha diversão. É, eu estava explodindo de felicidade, afinal eu voltava do pueblo com meu novo cinturão de tequila. A festa de hoje a noite prometia. Eu e minhas companheiras tínhamos muito que comemorar. E o meu cinturão de tequila cairia como uma luva para cometermos o grande crime.

Quando cheguei em casa as companheiras não estavam. E isso me soou um pouco estranho. O combinado era ficarmos o dia inteiro em casa desenhando apenas os mapas do crime. Só existia uma pessoa, além de mim, dentro da nossa casa. El Justicero estava sentado na janela central da sala fumando seu cigarro de palha.

- Ei wapo!! No lo sabia que estabas aqui.
- Pues ahora comprendo Zizinha. Tu necesitas irte, ahora! Ellas estan con la Boa Samaritana y lo creo que ...
- Donde estan las chicas, Justicero?
- Cerca de la hoguera!!!
- Zrá, Zrá, Zrá, Zrá!!

Pulei a janela central, peguei meu cavalo (ainda sem nome, aceito sugestões) e fui direto até a fogueira no deserto vermelho. Boa Samaritana estava amarrada numa cadeira a 500 metros da fogueira e as companheiras estavam competindo quem matava mais pássaros que cruzavam o céu.

- Estávamos te esperando, Zizinha!!! A Boa Samaritana já tinha dados seus pulinhos fora e enquanto a Zezão voltava para casa ontem à noite, Boa Samaritana nos dedurou para os coyotes de Tijuana e juntos seguiram a Zezão. A sorte é que nossa companheira fez o outro caminho e fingiu que ainda morávamos no casarão antigo. Conta Zizia


- Eu não sei de vocês, mas ela merece a fogueira. Assim aproveitamos e comemoramos a nossa noite um pouco mais cedo. Fala Zezão.

Eu irritada caminho até a Boa Samaritana e a empurro para o chão e suspiro: Pues me cago en tu puta madre! Tu eres como la falsa moneda, que de mano en mano va, y ninguno se la queda!!

Zuer, Zizia e Zezão arrastam a Boa Samaritana pelos cabelos até a fogueira gritando:

- Zrá, Zrá, Zrá, se não é franciscana já para fogueira!

Eu acendo um cigarro e apenas admiro a franguinha ser assada. Até que um pássaro cai morto bem do meu lado. Olho para trás e estamos cercadas de los coyotes de Tijuana!!

- Zuuuuuouuuuuu companheiras!!! Estamos com convidados!!! Grito eu.

Elas soltam a Boa Samaritana literalmente no meio da fogueira e se armam. Os coyotes apontam as metralhadoras para nós.

- Pára tudo! Isso daqui precisa de uma trilha sonora,­ grita el Justicero.

Nisso logo ali na esquerda, longe do alvo das armas, se instalam el Justicero com o violão, o Zelguis com sax e o Zovo com o bongo. Exatamente a banda de sempre: Trio los Panchos.

3, 2, 1 e Tanananannnn, Tanananannnn, Tanananannnn…

Os tiros disparam, os cavalos correm, a areia sobe, o trio não erra na trilha sonora. Só dá um pause para escutar o som da granada jogada por Zizia.

1 minuto de silêncio. Não existe barulho, nem tiro, nem trilha. A areia já está novamente no chão junto com os coyotes ensangüentados, as pistoleras e seus cavalos estão bem longe e ali na esquerda sem nenhum arranhão: o Trio los Panchos.

Sobe som: “Welcome to Tijuana, tequila, sexo y marijuana, Welcome to Tijuana con las pistoleras no hay aduana

viernes, 9 de enero de 2009

Como si fuera esta la noche la última vez


Essa noite seria marcada para o resto de minha vida. Eu sabia disso na hora em que vi a lua iluminando a estrada. E também sabia que mesmo não achando tão certo, existem momentos em nossas vidas em que precisamos voltar ao passado, mesmo que esse passado fosse há quase 10 anos. Sem avisar as companheiras, subi no cavalo com o crime na mente. Se eu era aprendiz ou não, esse crime era só meu e não podia ter mais ninguém. Eu e ele. Ele e eu. Atravessei o deserto enquanto a Lua me ajudava até o local combinado. Uma casa no meio do nada, mais ou menos há 20 km do pueblo Santiago. Como boa aprendiz verifiquei o terreno antes de entrar na casa, parecia que não existia nenhuma armadilha para mim. Quando entrei pela janela, ele quis dar um de Consuelo Velazques e começou a cantar: Quiero tenerte muy cerca, mirarme en tus ojos, verte junto a mí. Piensa que tal vez mañana yo ya estaré lejos, muy lejos de aquí... Bésame, bésame mucho como si fuera esta la noche la última vez.

A armadilha estava ali diante de meus olhos e eu sem preparo algum, fui dançando com um sorriso fiel até ele. Eu precisava fingir, por mais que a vontade fosse outra. E no bolero cai com ele, esqueci da armadilha e quase entreguei minhas armas. Mas quando ele sussurrou nos meus ouvidos baixinho: Reloj no marques las horas, porque voy a enloquecer, ella se irá para siempre cuando amanezca otra vez, lembrei do que eu já estava esquecendo, tirei delicadamente a pistola de minhas botas e olhei dentro dos olhos dele.... o tiro foi certeiro... na testa. Não é sempre que vale muito a pena acertar o coração. E como ele mesmo cantou, quando amanheceu eu fui embora mais uma vez.

lunes, 5 de enero de 2009

Venha 2009!!!

A virada foi como essa pistolera aqui queria.....paz de espirito.... ao contrário do deserto que estava em chamas!!!!!!!! Dançamos até os tornozelos dizerem chega...rimos até lavarmos a alma e esperamos a vinda de 2009 com muita fé! É isso ai, esse será nosso ano, iremos em busca de nossos sonhos, mesmo que todos duvidem... Nós, mulheres fortes, sobreviventes, apaixonadas pela vida e em busca de nosso lugar nesse deserto estamos armadas dos pés à cabeca, de amor, paixão, felicidade, humor e sede de viver....quem cruzar nosso caminho será atingido..... Zarcas apareceu no dia 31 e agora os ventos do Sul me chamam. Vou em busca de um novo pueblo. Este Pueblo aqui às vezes me drena, é hora de recarregar as forças, preciso ver o mar, dali vem minha força...não posso ficar muito tempo longe dele. Companheiras....nos vemos!!!

El viento viene, el viento se va por la frontera

Toda vez chove na última noite do ano. É quase uma tradição. Chover no deserto nesta noite representa boas vindas para o próximo ano. Mas ontem apenas ventou. O vento trazia um cheiro doce, tipo laranja lima. Quando virou o ano decidimos pegar o deserto e invadir o pequeno pueblo San Martin. A nossa alegria explodiu no céu enquanto atravessamos o deserto a cavalo, todo mundo viu, todo mundo escutou. O céu iluminava nossos tiros, deixávamos rastros por todos os cantos. Estávamos de férias. Festejávamos tanto que os sons das risadas malignas ZRA, ZRA, ZRA, virou mania.

Além disso, ontem era uma noite especial. Era à noite de Zarcas. A pistolera heroína direto do gibi. Uma mistura de She-Ha com Deusa Grega e uma pitada de Zizia. Zarcas impõe respeito, mostra experiência e é a minha madrinha. Não só minha, mas de todas as pistoleras. Ontem ela me ensinou a invadir qualquer festa. Invadimos o gramado alternativo do Wood Stok, a pista de dança principal do pueblo, a festa Rave de los señores de la quadra e la fiesta de la Capela Santa Pilar, onde reconhecemos El Zruno.

Quando voltamos para nossa casa pela última vez, ensaiamos 10 vezes seguidas o nosso plano infalível. E por incrível que pareça só existe uma coisa que nos tira o foco. A música. Só ela é capaz de fazer qualquer pistolera esquecer de agir.